A Associação Brasileira dos Festivais Independentes (Abrafin) tem uma nova gestão, pela primeira vez, desde a fundação da entidade. Fabrício Nobre, que teve a responsabilidade de legitimar e dar respaldo ao movimento dos festivais agora sai de cena e dá espaço para Talles Lopes. Fundador do festival Jambolada, que acontece em Uberlandia-MG, Talles também foi durante muito tempo produtor da banda Porcas Borboletas. Oficialmente, a presidência a associação passa a ser também de um membro de gestão dos coletivos Fora do Eixo.
Na entrevista exclusiva a seguir, Talles fala em primeira mão sobre essa nova fase da Abrafin:
:: Tem uma coisa que não me sai da cabeça. Fabrício Nobre, o presidente anterior, era um cara que você bate o olho e já sabe que tipo de música ele gosta. Esta sempre falando de bandas que achou boas e ruins, sempre fala mais de música que de política. E isso é algo que eu sempre acho difícil de ver na turma Fora do Eixo. Que tipo de música você curte ouvir?
Para responder isso, acredito que devo partir do festival que realizo, que é o Jambolada, e é onde minha personalidade está evidenciada publicamente. Se você acompanhar as ultimas 4 programações do Jambolada, vai notar um apreço pela diversidade e uma forte ligação com música brasileira. Acredito que o trabalho do Porcas Borboletas, banda que trabalhei durante 8 anos, também possa ser uma bom norte para buscar estas minhas referencias. Tenho um forte apreço pelos movimentos e nomes mais transgressores da música brasileira, como Itamar Assumpção e Jards Macalé, e fico emociado com o lirismo e lindas melodias do Clube da Esquina, sem deixar de ter já ter pirado muito com todo o rock produzido no Brasil. Nos últimos anos, por conta de todo este trabalho que estamos desenvolvendo ligado a nova música brasileira, passei a ouvir e assistir o que está sendo feito agora, sem muito preconceito ou segregação. No final das contas, temos música boa e música ruim, os gostos são diversificados, e eu acredito que neste momento eu devo me preocupar em melhorar as condições pra que toda a música boa do Brasil tenha melhores palcos e mais festivais pra se apresentarem, ao invés de tentar aplicar a minha personalidade musical neste processo.
:: Qual é a pauta principal de sua gestão na Abrafin?
Talles: Cara, acredito que a pauta principal seja assumir definitivamente o desafio de ser uma entidade de classe, assumindo prioritariamente sua vocação inicial que é a defesa dos interesses dos festivais independentes construindo plataformas pra sua sustentabilidade e desenvolvimento. Durante esta primeira fase, a Abrafin foi o grande celeiro pra disseminação da pauta associativa na música brasileira, sendo incubadora para o nascimento de outras entidades e movimentos como o Fora do Eixo e as Casas Associadas, e neste sentido, pela sua importância politica e grande expertise acumulado na cadeia produtiva da musica por parte de seus filiados, a entidade teve que ser uma grande interlocutora para diversos temas, além de ter um papel fundamental na criação de um campo de mobilização de todos os elos desta cadeia, através da criação da Rede Musica Brasil. Com a RMB consolidada e com a consolidação da perspectiva associativa,temos hj um terreno fertil para q nesta proxima gestão possamos retomar esta vocação inicial, e termos um foco ainda mais claro no processo de qualificação de nossos festivais, dentro de uma plataforma q vamos lançar chamada QUALY.
:: E como vai funcionar esse Qualy?
A idéia é que possamos ter um processo mais intenso de acompanhamento de cada um dos festivais, desde a elaboração dos projetos, passando pelas questões de estrutura técnica (palco, som e luz), até os serviços de atendimento e logistica e as transmissões ao vivo destes festivais, num atendimento personalizado. Para isso, o primeiro passo foi montar uma equipe forte para dar este acompanhamento e a transferência do escritorio da entidade para São Paulo, para facilitar este processo. Sabemos que o primeiro momento seria um momento de grande crescimento da entidade e disseminação da plataforma, e que agora o grande desafio é qualificar ainda mais estes festivais. Mesmo neste primeiro momento já percebemos uma grande qualificação, com melhorias substancias na qualidade das estruturas, e agora precisamos ter uma avaliação mais criteriosa e detalhista, ao mesmo tempo que podemos aproveitar toda o expertise acumulado q entidade possui.
Exemplo: neste final de ano a discussão sobre as rádios virou pauta novamente, depois de uma entrevista que o Lobão deu para a rádio Transamérica. Já estamos discutindo com a Arpub (Associação nacional de Rádios Públicas) uma parceria para a transmissão dos festivais da entidade, com a possibilidade de fazermos transmissão via satelite.
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