Crônica de Nem, vocalista da Cama de Jornal
Após sua viagem ao Sul do país, Nem, vocalista da cama de Jornal, escreveu uma crõnica relatando como tudo aconteceu. Segue abaixo junto com as fotos tiradas pelo mesmo;
Uma Viagem Rock And Roll
Por: Nem, Vocal da banda Cama de Jornal
Quando programei minhas férias, já pensava o que ia procurar: Conhecer pessoas e lugares, mas principalmente curtir o bom e velho Rock And Roll em outras paragens. E assim embarquei na maior viagem de minha vida, sozinho, no autêntico estilo “mochileiro”.
Destino inicial: Curitiba, Paraná.
Antes de partir, procurei entrar em contato com alguns amigos que conhecia apenas através da internet, dentre eles Houly, vocalista da banda Horda Punk, de Santa Catarina, que como eu estaria de férias por Curitiba. E ficou certo que assim que chegasse por lá, entraria em contato por telefone. E foi o que fiz. Desembarquei em Curitiba no dia 5 de Maio, as 16:25 e fui direto pro orelhão avisar que tinha chegado. Mas para a minha surpresa, ouvi a maldita mensagem: “este telefone encontra-se fora de área ou desligado...”. Puts... resmunguei...o primeiro plano foi por água a baixo...fui para o plano B. Tentar chegar até o Hostel, não estranhe a grafia, é Hostel mesmo, com “s” no meio, uma espécie de Hotel/albergue muito usado por mochileiros e estudantes de intercâmbio para se hospedar e compartilhar informações e cultura. Era o Roma Hostel, no centro de Curitiba. Peguei o ônibus e cheguei até lá sem maiores problemas.
O ambiente do Hostel era bem bacana, fiquei em um quarto coletivo, com outros mochileiros, que aos poucos fui descobrindo suas nacionalidades: tinha uma dupla de Israel, um russo e tinha também um brasileiro que chegou depois. Ele era de Goiás, e trocamos idéia e descobrimos que gostávamos da mesma coisa: Rock And Roll.
Então, à noite, fomos procurar um bar pra tomar uma cerveja e curtir um rockzinho...e partimos para o centro histórico da cidade, onde existem vários bares e encontramos o Tuba Bar. Ambiente legal, Kiss rolando em duas tevês, “opa, rock and roll”-eu disse. Decidimos entrar. Escolhemos uma mesa, e chegou o garçom e nos apresentou o cardápio, mas não disse nada e se retirou. Olhamos o preço da cerveja e gritamos de longe para ele: “uma cerveja, por favor”. E assim foi a noite, várias cervejas...no final chamamos o garçom e pedimos a conta, ele se retirou e instantes depois voltou com um papel com o valor, deixou sobre a mesa e novamente se retirou. Isso já tava me deixando agoniado. Imagine você entrar em um bar e não ouvir a voz do garçom, nem um “boa noite”, “o que vão querer”, nada. Nunca tinha visto isso. O pior foi ao pagarmos a conta, o senhor do caixa recebeu o dinheiro, virou as costas e também não disse nada. Nesse momento cheguei a pensar que o bar era de surdo-mudo (que pensamento bizarro), mas aí falei: “muito obrigado”, e ninguém respondeu...deu vontade de gritar!!!! Mas me controlei. Então passado o “constrangimento”, saímos do bar, eu e o meu amigo morrendo de rir da situação, e o povo olhando os dois bêbados costurando as ruas do centro histórico curitibano. E assim descobri da pior forma possível como o povo curitibano é frio. Frio não, gelado!!! Só não generalizo por que conheci muita gente bacana lá também...mas nunca tinha visto isso na minha vida.
Por falar em gente bacana, fui no outro dia me aventurar sozinho pelos bares de Curitiba, pois meu amigo goiano já havia partido, e descobri com o pessoal do Hostel um bar chamado Hangar, em que tocava bandas ao vivo. Peguei um táxi e pedi ao motorista pra me levar até o tal Hangar. Só que ele disse que não sabia onde era, e se eu tinha um ponto de referência. Eu disse que ficava no centro histórico e pra lá fomos nós. No caminho, o taxista me perguntou de onde eu era e respondi que era da Bahia, e ele logo me disse que era curitibano, mas que conhecia a Bahia, pois sua esposa era baiana de Irecê, e o papo ficou por aí. De repente ele pega o celular e faz uma ligação e diz com a pessoa do outro lado da linha: “tem um cara querendo falar com você aqui”, e passou o telefone pra mim e disse: “fala aí com minha esposa”. Fiquei sem ação, mas peguei o celular e disse “alô”, e a mulher respondeu perguntando:”Quem é?”, respondi:”É Emanuel, tudo bem? Eu tô aqui com seu marido fazendo uma corrida pro centro histórico” e ela logo perguntou:”Esse sotaque não me é estranho. De onde você é?” e eu respondi: “Sou de Vitória da Conquista, na Bahia, você conhece?”. Nesse momento a mulher propagandeou que o marido dela estava com um baiano no táxi, foi quando ouvi aquele grito como se fosse gol em final de copa do mundo, um monte de gente gritando do outro lado da linha, não agüentei e cai na gargalhada e passei o telefone para o taxista e ele falou algo com a esposa, desligou e também caiu na gargalhada. Alguns segundos depois o telefone toca de novo, ele atende e novamente passa para mim. Novamente digo “alô”, e do outro lado outra mulher aos gritos “ah, você é da Bahia, que coisa, a quanto tempo não ouço esse sotaque maravilhoso, pra onde você está indo? O que faz em Curitiba?” e eu respondi “estou dando um rolé por aqui, se você quiser vir no bar hangar, pra gente tomar uma cerveja e conversar um pouco, pode aparecer” e me despedi passando novamente o telefone para o taxista, perguntando quem era dessa vez, e ele disse que era a cunhada dele, que estava em Curitiba fazendo um curso de turismo já fazia uns trinta dias e que ela já estava ficando depressiva porque os colegas de curso nunca conversavam com ela. E isso pra mim foi mais uma constatação da geladeira que é o povo curitibano, deixando claro mais uma vez que não estou generalizando. Mas imagine você fazendo um curso de Turismo em que ninguém conversa com ninguém...acho que em Curitiba é assim.
Ah, mas pra onde eu estava indo mesmo? Pro rock and roll no Hangar. Chego no tal hangar e pago a corrida do taxi e me despeço do amigável motorista, que ao fechar a porta, diz: “amigo, vá curtir sua noite e esqueça esse povo de Curitiba”. Foi o que fiz. Quer dizer, tentei não conversar ou puxar conversa, mas não consegui...e já no balcão do bar pedi uma cerveja e por ali mesmo fiquei, e perguntei pro rapaz no balcão: “quem vai tocar hoje aí, amigo”, e ele de pronto respondeu: “hoje vão ser 3 bandas de metal, 2 de Curitiba e uma de São Paulo”, continuei indagando:”aqui rola show de bandas de Punk Hardcore?”, e ele bastante atencioso:”sim, ontem mesmo teve uma banda cover do Ramones, bem bacana”, pensei: “puts...perdi...” e o papo alongou até que tive a coragem de dizer que eu fazia parte de uma banda punk na Bahia, e que queria saber como era feita a seleção de bandas para tocar na casa, e ele me mostrou quem era o dono do bar e que podia ir lá falar com ele, que era gente boa. Foi o que fiz. Não antes de tomar umas cervejas e ouvir as duas primeiras bandas da noite. Depois, lá pras 3 horas da manhã, fui lá e contei toda a história da nossa banda pro cara, no final ele disse que era para deixar o material pra ele ouvir e passar para o pessoal que organiza as gigs punks por lá, já que ele mesmo não organizava os eventos, somente alugava o espaço para os shows. No Hangar percebi que não podia generalizar a frieza do povo Curitibano, pois nessa noite tinha encontrado muita gente legal e prestativa pelo meu caminho.
No outro dia, ainda em Curitiba descubro que o russo que estava hospedado lá no hostel, ele sim era um surdo-mudo, que estava tentando entrar para o livro dos recordes, como o primeiro surdo-mudo a dar a volta ao mundo em uma motocicleta. Aí, lhe dei um CD e um adesivo da Cama de Jornal, adesivo este que imediatamente colou na bagagem da moto. Alguém pode até questionar: “pra que dar um CD para um surdo-mudo”. Pois é, mas eu dei porque sei que mesmo que ele não consiga ouvir, vai ficar curioso e pedir para algum amigo ouvir e traduzir para ele a essência do nosso Punk Rock.
Nesse mesmo dia, tento ligar mais uma vez pro meu amigo, Houly, da banda Horda Punk, e dessa vez consigo, e ele se desculpa por não estar em Curitiba, pois de última hora havia resolvido ir para São Paulo, mas me convida pra ir para sua casa em Porto União da Vitória, divisa dos estados do Paraná com Santa Catarina, e então pego o ônibus as 5 da tarde e quatro horas depois desembarco em Porto União, onde o Houly já me esperava na rodoviária. No momento da minha chegada estava um frio desgraçado, e logo que adentramos a sua casa, Houly me apresentou a sua esposa, e em seguida ele tratou de acender uma lareira e providenciar uma dose de uísque pra nos aquecer. Conversamos bastante e Houly me pediu para deixar um recado na parede do seu estúdio e depois da meia noite fomos pra casa do Triplleg, baterista da Horda Punk, pois também não o conhecia pessoalmente e ficamos lá, bebendo um pouco e conversando sobre punk rock.
No dia seguinte, fomos dar um rolé pela cidade, Houly aproveitou para me apresentar algumas pessoas envolvidas com o rock de Porto União da Vitória. Dentre elas, conheci o Osmar, dono de uma loja Rocker, a Porão Discos, um cara bem bacana e bastante receptivo. À noite, Houly convidou alguns amigos para um churrasco em sua casa, e pude conhecer também o Bob, baixista da Horda Punk e o Crixian, um baterista amigo da galera. No dia seguinte voltei para Curitiba, e embarquei para Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.
Já em Campo Grande foi mais tranqüilo, porque minha irmã mora lá. Tinha também o contato de um amigo chamado Alysson, da banda Repúdio CxGx, que me passou a agenda da semana para o rock na cidade e fui dando os meus rolés com outro amigo, chamado Mano. No primeiro dia, Mano me levou no Bar Fly, que estava comemorando 10 anos de Rock And Roll. Tocaram nessa noite 4 bandas, mas só conseguir ver 2, uma chamada Slave Machine, e a outra River. Gostei do ambiente, gente tranqüila curtindo o Rock And Roll. Lá conheci o Enrique, da Banda Dor de Ouvido,que estava panfletando uns shows de rock, um cara muito gente boa e que já tem uma história no underground brasileiro.
Na outra noite fui para um show da banda Nação Zumbi em uma praça de Campo Grande. Um show gratuito, produzido e apresentado pelos índios guaranis. A banda Nação Zumbi fez um show sensacional, tocando desde as músicas mais novas até os clássicos do início do Mangue Beat.
No dia seguinte, fui ao Parque das Nações Indígenas, pois iria rolar duas bandas de rock independente tocando por lá, e também havia marcado de me encontrar com o Enrique e com o Alysson, da Repúdio CxGx. E realmente lá nos encontramos, e trocamos muita idéia e material. Conheci outras pessoas envolvidas na cena rock de Campo Grande, inclusive conheci uma das bandas que estavam tocando, a Dimitri Pellz, até tirei fotos com eles e curti bastante.
No dia 18 de maio embarquei de volta pra casa e enfim, acho que acabei realizando o que queria, quando fiz minha mochila pra viajar. Conheci pessoas e lugares especiais, curtindo o bom e velho Rock And Roll!!!
Ah, e já estou programando a próxima viagem!!!
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